História
“A ação pastoral dos Missionários Saletinos na Vila Paulistana, situada na periferia da Zona Norte da capital paulista, teve início no ano de 1970, com o Pe. Olivio José Bedin MS, Vigário Paroquial em Sant´Ana. Pe. Olivio frequentava o curso de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP). Desejoso de estar mais próximo ao povo pobre, escolheu a Vila Paulistana como ponto de encontro com o favelado e oprimido.
Os tempos favoreciam essa opção. A realidade sócio-político-militar do Brasil era de opressão. O Ato Institucional nº 5, exarado em 1968, suprimiu todos os instrumentos da democracia, provocou a supressão dos direitos humanos, facilitando prisões, exílio, tortura e morte. A cidade de São Paulo foi duramente atingida pelo clima de terror, pelas truculentas corporações a serviço da ditadura militar e por outras forças clandestinas de opressão.
Por outro lado, a Conferência Episcopal Latino-Americana realizada em Medellín, em 1968, no intuito de trazer para a realidade do Continente as orientações teológico-pastorais expressas pelo Concilio Vaticano II, impeliu a Igreja no Brasil a se renovar e a tomar atitudes proféticas ante o poder opressor. Tornou-se a voz do sem-voz, a defensora dos pequenos e pobres. A Visão de Medellín expressa na opção pelos pobres e articulada pela Teologia da Libertação que ensaiava os primeiros passos, suscitou uma extraordinária ida aos pobres, os prediletos de Deus, como sinal evangélico da autenticidade da missão eclesial. Nessa caminhada nasceram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e por ela a Vida Religiosa foi se inserindo em meios populares.
Os Missionários Saletinos do Brasil trilhavam esse caminho, apesar de suportarem, na pessoa de alguns deles, a angústia da clandestinidade, a dor da prisão e tortura, as ameaças de morte anônimas feitas pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Em sua perspectiva eclesial os Missionários adotavam no entanto, métodos pastorais indicados pela Igreja Latino-americana e buscavam estar junto ao povo.
Calcado nesse ideário, animado pela fortaleza do Espírito e pela curiosidade do estudante de Sociologia, Pe. Olívio começou a marcar presença junto ao povo da Vila Paulistana. Desde 1965 o povo desse bairro desejava tornar-se Paróquia. Uma Capela dedicada a Nossa Senhora do Carmo já existia desde 1955, por iniciativa de famílias portuguesas residentes na área. A Irmã Marta, da Congregação de São José de Chambéry, realizava junto a essa comunidade, um valioso trabalho social através do “Mutirão do Pobre”. A essa entidade pertencia o imóvel doado à Paróquia para nele se instalar a Casa Paroquial.
Com a permissão do Pároco da área, em finais de semana, Pe. Olívio lá celebrava a Eucaristia, organizava reuniões para a formação de lideranças, suscitava o surgimento de CEBs. Não pensava propriamente na criação de uma nova Paróquia.
O trabalho pastoral na periferia pobre da cidade gozava do explícito apoio do Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns OFM. Na Vila Paulistana o povo crescia e se organizava. Uma comissão representativa por várias vezes se dirigiu a Dom Paulo para lhe solicitar a criação de uma Paróquia naquele bairro. A Paróquia finalmente foi criada em 14 de Maio de 1972. Pe. Olívio tornou posse do cargo de Pároco na presença de povo numeroso, em Missa presidida pelo Pe. Clorálio Caimi MS, Vigário Episcopal da Região Norte, concelebrada pelo Pe. Atico Fassini MS, Coordenador Provincial, pelo Pe. Santo Granzotto MS e pelo próprio Pe. Olívio Bedin MS.
Os desafios Sócio-pastorais
Pe. Olívio estabeleceu residência em casa popular, nas cercanias da Igreja Matriz. A Igreja, exígua e pobre, deu lugar a um templo mais adequado e moderno. O bairro não dispunha de infraestrutura nem de asfaltamento nas ruas. No entanto, o trabalho de evangelização, por meio de grupos de base para a formação bíblica e a promoção dos direitos humanos, se firmava casa vez mais.
Dom Paulo já havia criado a Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz, o que dava amparo ao trabalho pastoral aberto à realidade sócio-política, além de prestar apoio a muitos casos de prisão, tortura e morte que se repetiam nos porões da ditadura em São Paulo. Dom Paulo Evaristo desempenhou um papel primordial nessa área, criando a Comissão Arquidiocesana de Direitos Humanos da qual Pe. Olívio fez parte em seus primórdios. Na condição de membro desta Comissão, foi ele encarregado de ler a Mensagem do presidente da Universidade de Notre Dame, dos EE.UU, levava a público na chamada “Noite do Compromisso”. Nessa noite, uma multidão de quatro mil pessoas lotava o Teatro da Pontifícia Universidade Católica, o TUCA. Dom Paulo era então homenageado, a 22 de maio de 1977, por ter recebido o título de Doutor Honoris Causa daquela Universidade americana. Na mensagem se fazia menção ao júbilo pessoal do Presidente Jimmy Carter, admirador de Dom Paulo, pela amizade que se formara entre ambos.
A criação da Comissão de Direitos Humanos se dera em 1975, com a implantação do 1º Plano Pastoral da Arquidiocese. Dom Paulo fixava quatro prioridades pastorais entre elas a dos direitos humanos e dos marginalizados. Dom Paulo, ao se preocupar com a criação dessa comissão, solicitou a Pe. Olívio que indicasse o nome de algumas pessoas para dela tomarem parte. Animado pela causa, Pe. Olívio fundou a serviço da Paróquia a seus cuidados, umCentro de Defesa dos Direitos Humanos que desempenhou importante papel na história do bairro.
Como Pároco, Pe. Olívio ali permaneceu até 1979 quando foi eleito Coordenador Provincial. A 2 de março de 1980, Pe. Raimundo Lipski MS assumiu a direção da Paróquia. Pe. Raimundo havia trabalhado na Paróquia de Santana. Desejoso de estar mais diretamente ligado á classe operária, solicitou a permissão de trabalhar com essa pastoral específica na Diocese de Sorocaba, onde também exerceu o magistério em escola secundária. Transferido para a Vila Paulistana, prosseguiu seu ministério unido ao povo pobre, com acento especial na formação bíblico-catequética da comunidade e no apoio à luta pelos direitos humanos.
O cuidado pelos direitos humanos, tão espezinhados na época, marcou a ação pastoral na Paróquia da Vila Paulistana. Em nome dessa causa foram enfrentados momentos difíceis, episódios de ocupação de terrenos baldios existentes no bairro, por parte de pobres sem-teto. Uma dessas ocupações, formada por mais de cem famílias pobres, resultou, a 11 de fevereiro de 1984, no bairro Jardim Filhos da Terra que hoje compreende as comunidades Nossa Senhora da Salette e a Associação de Moradores Filhos da Terra. A partir desses episódios conflituosos, a Vila Paulistana cresceu e deu lugar a várias outras comunidades como Jova Rural, Jardim Fontalis, Jardim Ataliba Leonel, Jardim Felicidade e outros”